Galp reforça vendas ao conquistar abastecimento dos postos Jumbo

Leilão promovido pela Auchan criou ondas de choque entre a concorrência. Jumbo controla 22% do negócio.

A Galp ganhou o leilão para o fornecimento de combustíveis à rede de postos dos hipermercados Jumbo, por um período de dois anos. O negócio, que se encontrava nas mãos da sua concorrente espanhola Cepsa, permitirá à petrolífera nacional, actualmente com uma quota de cerca de 30%, reforçar a liderança na área das vendas de gasolina, gasóleo e GPL.

Com 26 postos de abastecimento, localizados nos principais centros urbanos, o grupo de distribuição do universo Auchan detém quase 22% deste segmento.

O Diário Económico sabe que as novas orientações da Galp, que já abastecia grande parte da rede de postos do Leclerc e do Intermarché, vão no sentido de travar a perda de vendas para os hipermercados. Objectivo que se terá reflectido no preço da proposta colocada em cima da mesa, considerada imbatível pela concorrência, revelaram fontes do sector. Uma situação que terá gerado uma onda de choque entre os operadores que se apresentaram a concurso.

Sintoma dos novos tempos foi igualmente a presença no leilão das quatro grandes empresas do sector - Galp, Repsol, BP e Cepsa - ao contrário do que aconteceu no passado.

Certo é que as petrolíferas se defrontam com desafios sem precedentes, forçando-as a constantes revisões das estratégias comerciais.

Um dos mais recentes é a imposição governamental a todos os operadores da venda de combustíveis simples. Medida que levou muitas petrolíferas a retirarem das bombas combustíveis com maiores margens para acomodarem a nova gasolina e gasóleo não aditivado.

Por divulgar está ainda o volume de vendas de combustíveis tradicionais que, desde Março, foram assim transferidos para os combustíveis simples. No entanto, no sector é dado como certo que haverá perdas nas contas das companhias no final do ano, as quais estão a tentar minimizá-las a todo o custo.

A este cenário junta-se a crise económica dos últimos anos, a qual provocou quedas históricas no consumo, bem como o facto de cerca de 70% dos combustíveis consumidos em Portugal serem vendidos com desconto.

As petrolíferas têm sido ‘obrigadas' a fazer promoções ou parcerias para tentar travar a queda do consumo e para desviar clientes aos postos dos hipermercados e marca branca.

As quatro cadeias de supermercados que actuam na venda a retalho de combustíveis em Portugal - Auchan (Jumbo), E. Leclerc, Jerónimo Martins (Pingo Doce) e Os Mosqueteiros (Intermarché) - representam já cerca de 28,4% (em volume) e 27% (em valor), segundo os dados do primeiro trimestre divulgados recentemente pela Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.

O estudo realizado pela Kantar Worldpanel revela também uma quebra do número de abastecimentos, mas um aumento do volume médio de litros abastecidos em cada ida ao posto de abastecimento (22,77 litros). Realidade que, no sector, é atribuída à descida do preço dos combustíveis e a uma retoma da economia que se reflecte no bolso dos consumidores.

Também afectados pela actual conjuntura do mercado estão os revendedores de combustíveis. Estima-se que em Portugal haja cerca de 800 postos de marcas brancas e 1.000 revendedores.

Em declarações ao Diário Económico, o presidente da Associação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (Anarec), João Durão, diz que a introdução dos combustíveis simples não lhes facilitou a vida. "As petrolíferas tudo fizeram para proteger os seus interesses. Não olharam para os revendedores. O preço disponibilizado pelas petrolíferas não dá margem para os revendedores comercializarem os combustíveis".

João Durão sublinha ainda que a Anarec "está a preparar uma estratégia para dar resposta" a este problema. E admite que uma das soluções poderá passar pela participação em leilões de fornecimento de combustíveis, semelhantes ao que o Jumbo promoveu.

Apesar de contactado, não foi possível obter uma reacção oficial do Jumbo.